O Congresso
No ano em que se comemora os 60 anos da publicação da primeira obra de António Ramos Rosa, O Grito Claro (Faro, Tip. Cácima, 1958), e em que a Assírio & Alvim leva ao prelo o primeiro volume da obra poética completa do poeta, o CLEPUL — Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Univ. de Lisboa, em parceria com a Biblioteca Nacional de Portugal e outras instituições culturais de referência, organiza o Congresso Internacional "António Ramos Rosa: Escrever o Poema Universal". O encontro terá lugar no Auditório da BNP entre os dias 17 e 19 de Outubro de 2018.
O Congresso constitui uma oportuna ocasião para, ante a obra completa do poeta, reavaliarmos a sua singularidade, o seu sentido e o seu impacto. Assim, tendo em conta o justo apelo de Tolentino Mendonça, para quem é preciso “avaliar até que ponto ele emerge como figura disruptiva na paisagem portuguesa entre séculos”, procurar-se-á (re)equacionar a dimensão e originalidade deste poeta-pensador no quadro da literatura e cultura portuguesas, mas também internacionais.
Participam no Congresso especialistas na obra de Ramos Rosa e alguns dos maiores estudiosos da literatura e da cultura portuguesas, bem como um grupo de jovens investigadores, que — em alguns casos por via de um exercício comparatista — contribuirá também para a renovação da leitura da obra rosiana. Assumindo um espectro temático tão amplo quanto possível, as comunicações privilegiam as várias faces da escrita do autor — poesia, ensaio, crítica, tradução e epistolografia —, assim como a relação de Ramos Rosa com o seu contexto histórico-social e com as diferentes tradições poéticas.
Para além dos painéis de comunicações, haverá também lugar para algumas actividades através das quais festejaremos a data do aniversário do poeta (17 de Outubro) e celebraremos a sua poesia.
António Ramos Rosa (1924-2013) foi o poeta português mais prolífico e, segundo os pares e a crítica, um dos mais decisivos da segunda metade do século xx. Tendo a sua primeira obra vindo a lume em 1958, a colectânea de poemas O Grito Claro — não obstante já publicasse, de forma dispersa, desde a década de 40 —, o poeta encerrou, em Numa Folha, Leve e Livre (2013), um percurso poético de mais de sessenta anos em que vida e escrita se tornaram indiscerníveis, constituindo-se o ofício de escrever como a única resposta à exigência de viver integralmente.
Poeta, crítico, ensaísta e tradutor, Ramos Rosa deixou-nos, para além de mais de oitenta volumes de poesia, algumas das reflexões mais significativas sobre escrita poética publicadas no século xx em Portugal, sendo disso exemplo obras como Poesia, Liberdade Livre (1962) e A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (2 vols., 1979-1980). A ele estão também associadas algumas das principais revistas literárias portuguesas da segunda metade do século, tais como Árvore (1951-1954), Cassiopeia (1955) e Cadernos do Meio-Dia (1958-1960), das quais foi um dos fundadores e directores. No entanto, a marca deixada por Ramos Rosa na poesia e no pensamento contemporâneos não se confinou às fronteiras nacionais. Empenhado na construção de uma comunidade poética transnacional, fez o seu percurso poético-filosófico a par de um diálogo contínuo com vários pensadores e poetas estrangeiros, sobretudo da França e do restante mundo francófono, mas também, numa fase posterior, da Espanha e da América Latina. Destacam-se, neste contexto, nomes como Éluard, Michaux, Char, Barthes, Blanchot, Bonnefoy, Munier, Jiménez, Salinas, Juarroz, Paz, Chardin, entre muitos outros. Evocando-os nos seus ensaios e traduzindo para português os seus textos, Ramos Rosa assumiu-se como um incansável e oportuno divulgador de muitos dos referidos nomes em Portugal.