Miguel Real
CLEPUL, FLUL
“António Ramos Rosa: Filosofia e Poesia”
Desde Poesia. Liberdade Livre (1962), reafirmado nos dois volumes de A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979, 1980), a palavra poética é evidenciada em António Ramos Rosa como acto ontológico, não de espelho realista do mundo ou criação romântica ou apaixonada do real, mas como criação da Palavra essencial pela qual se abre o horizonte de um novo mundo. A Palavra desoculta a realidade histórica, semanticamente cumulada de preconceitos sociais, evidenciando uma outra tecida, não de mensagem afirmativas, mas de “interrogações”, de incertezas, de interpelações. Retornando à simplicidade das palavras, como se alimentadas pela pulsão original e originária de sua criação e necessidade, António Ramos Rosa estatui a Poesia ao lado da Filosofia, e porventura de um modo mais profundo do que esta, como a grande aventura da liberdade humana, como se ostenta, por exemplo, na primeira estrofe do poema “Daqui deste deserto em que persisto”: “Nenhum ruído no branco. / Nesta mesa onde cavo e escavo / rodeado de sombras / sobre o branco / abismo / desta página / em busca de uma palavra” (A Nuvem sobre a Página, 1978).
Miguel Real é ensaísta e romancista. Membro integrado do CLEPUL-FLUL. Dentre a produção mais recente, destacam-se os volumes: Romance Português Contemporâneo. 1950-2010 (2011), Nova Teoria do Pecado (2015), Traços Fundamentais da Cultura Português (2017), Fátima e a Cultura Portuguesa (2018). Ficção mais recente: O Último Europeu (2015) e Cadáveres às Costas (2018).]